quarta-feira, 28 de julho de 2010

O convite rodava e rodava na minha mão... Se eu ficasse um tempo com aquilo não restaria mais nada do papel. As letras douradas me intimidavam e a palavra escrita no convite individual parecia querer brincar comigo: acompanhante.

"Bianca e acompanhante".
Acompanhante nada mais é do que o termo chic de namorado, noivo, marido... Mas eu não deixava de pensar que semanticamente a palavra não era ao pé da letra isso. Acompanhante é que acompanha, quem está junto, quem está sempre lá por você...

Eu olho pros lados e meu cachorro está me olhando com uma cara de desconfiado, até ele está me lembrando da ironia de estar fazendo jogos semanticos sendo que eu não tenho ninguém que se encaixe em nenhum dos significados...

Tudo porque eu sou um fracasso amorosamente falando. Eu sempre fiquei pra trás, eu sempre segurei velas, escrevi cartas pra outras mandarem como delas... Minha tragédia não vem de agora e eu inclusive me lembrei do tempo em que eu e uma amiga estavamos falando em namorados de aluguel se estivessemos solteiras no casamento de alguma de nós. Esse seria o nosso segredo. Na época soou mais como brincadeira do que como vida real, mas eu não pude evitar uma pontade de dor ao lembrar que esse é o recurso que me sobrou no final...

Porque ir sozinha não estava mesmo em nenhuma de minhas opções. Eu não queria ir e me sentir a única que ficou pra trás. Não queria sentir os olhares de pena de todo mundo que eu convivi. Minha solidão não era um show pra quem quisesse assistir...

Dormi com isso na cabeça e com a idéia fica de no outro dia agilizar essa questão.

Como o meu trabalho estava tranquilo no outro dia resolvi ligar pra uma agência de acompanhantes. E ninguém pode imaginar o quão degradante é isso. E adivinhem só: Ao saber pra que era não tinha ninguém disponível no momento pra mim. A prioridade da agência era OUTRA. Bem sei qual é essa outra prioridade... De qualquer maneira até nisso eu fui rejeitada, nem pagando. E agora o que eu iria fazer? Minha auto estima já tava tão baixa que qualquer um que passasse do meu lado pisava nela...

- Bianca, tá tudo bem?
Claro que não tá tudo bem. Não é você que vai ter que inventar uma doença pra não ir no casamento da sua amiga pra ninguem notar o quanto sua vida é uma droga.
- Tá tudo bem sim!
Ele não merecia que eu despejasse tudo em cima dele. Ele era um amigo muito bom, talvez o único que tenha. Pelo menos é o única que me aguenta sem reclamar, pelo menos comigo.
- Sabe, não parece que você esteja muito bem.
- Sabe o que é? Na verdade eu preciso de alguem pra ir comigo no casamento da minha amiga e eu não tenho ninguém.
Nunca eu iria contar sobre minha tentativa fracasssada na agência. Mas eu tinha orgulho. Ele podia estar péssimo agora, mas ele ainda existia.
- Só isso? Não tem problema! Eu vou com você. Claro, se você não se importar...
- Jura? Você faria isso por mim? Caramba você me salvou mais uma vez!
Não tava acreditando que eu tinah conseguido. Mais uma fez o Felipe tinha me salvado.

No dia do casamento estava quase na hora marcada com o Felipe e eu ainda estava escolhendo se ficava melhor a sandália prata ou a sandália lilás combinando com o vestido... Eu ainda estava nesse dilema quando a campanhia tocou e o felipe apareceu.
- Qual das duas sandálias?
- A prata.
- Tem certeza?
Bom, tanto faz. Além do mais o Felipe já tinha feito um grande favor pra mim me acompanhdo, não era justo com ele eu ainda ficar pedindo conselhos de moda.

Chegamos no casamento e quando ele me deu a mão pra sair do carro foi quando eu percebi o quanto ele ficava lindo de terno, que caía perfeitamente nele. O perfume que exalava dele era de uma doçura não enjoativa, mas que convidava a aproximação. Eu já tiha visto ele de terno, mas nunca na vida ele pareceu tão atrativo e tão vivo pra mim... Ele ao sair do carro não precisou de nenhuma dica, se comportando como um namorado de verdade. Ao nos ver no espelho não deixei de pensar que até que fazíamos um casal bonito, mesmo de mentira. E ao que parecia ele mentia increvelmente bem...

Foi nesse momento que as vi. Minhas amigas. Vendo- as ali, deslumbrantes, maduras e seguras, todas nos braços dos respectivos amores era impossível não ter certeza de que eu realmente tinha ficado pra trás, que eu era uma criançinha insegura no meio delas que só cresceu por fora. O Felipe, percebendo minha hesitação, intensificou o aperto na minha cintura, me dando força pra continuar, porque minha vontade era sair correndo dali de salto alto e tudo.

Todas estavam lindas, e conversavam animadas. A animação dobrou quando me viram. O grupo estava todo completo agora. Uma delas iria ser a madrinha da noiva, era a que mais tinha intimidade com os noivos. Enquanto isso a Bia, aquela que imaginou alugar um namorado comigo estava rindo por algo que o namorado sussurrou no ouvido dela.

Ela não prestou muita atenção em mim, eu me senti meio decepcionada por ela não ter lembrado, nem questionado aquela nossa idéia. pelo olhar dela, ela nem lembrava... Ou talvez não fizesse mais diferença lembrar disso. O que importava pra ela se eu não tivesse ninguém pra ir comigo...

O namorado a olhava como se ela fosse a coisa mais linda do mundo. E um sentimento sem nome se apoderou de mim... não era inveja... Eu estava feliz por ela. A gente passou tanta coisa junta e ela merecia muito. Não era ódio, nem raiva... era falta daquilo que nunca existiu...

Todas tomaram seu lugar pro casamento começar...
A igreja estava perfeita, as flores perfeitas, as músicas perfeitas. Tudo estava perfeitamente... Ana Paula. Tudo ali era cara dela.

O noivo era o namorado de escola dela. A gente presenciou o primeiro beijo, o pedido de namoro, a primeira briga, e as muitas que se seguira depois dessa... Mas a gente sempre teve certeza que eles não iam se separar. Ao olhar pra ele, ele me viu e deu um sorrisinho. Comentei com o Felipe:
- O noivo ta muito nervoso tadinho...
- Quem não estaria a estar prestes a se juntar a mulher da sua vida?
- Nossa, não sabia que você era adepto ao casamento Felipe, normalmente os homens da sua idade fogem dele como fogem da cruz...
- Com a pessoa certa, eu topo qualquer coisa.
- E Você vai encontrá-la eu tenho certeza. E eu queria aproveitar pra agradecer de verdade você ter me acompanhado...
- Imagino, sei que um dia eu vou ganhar uma recompensa por isso.
- Pode ter certeza que sim!

O casamento foi lindo. A Ana Paula estava simplesmente linda. O vestido dela era perfeito. Exatamente como ela tinha falado que seria há tantos anos atrás... algumas coisas simplesmente não mudam. São elas que nos fazem sentir seguros em meio há tanta coisa que muda...

Nos juntamos todo mundo pra fazer a festa depois ao comprimentar a noiva, na verdade praticamente raptamos a noiva, mas tudo bem. Essa era a hora que a gente teria pra ter 15 anos de vida, pra reviver todos os sonhos daquela época.
- Amigaaa, você casoou.
- Siim, eu caseei.
- E tá todo mundo beem.
- Bianca, que lindo seu namorado.
- Que isso, lindas são vocês.
- Owwwn
Um couro se ouviu.
Bia continuou:
- Logo Bianca que reclamava de tudo: AAh eu vou morrer sozinho; Aaahh ninguém me ama...
Ela não tinha noção de que tão perto da verdade ela estava... Mas meu sorriso estava preso no rosto com pregos e nada tiraria ele dali agora.
O que aconteceu a seguir foi totalmente inesperado: Felipe continou a conversa:
- Reclamava? Ela é a pessoa mais reclamona que eu conheço. Aii tá feio, não gosteei, tá tarde, é cedo. To com fome, não quero dormir.
Todas riram inclusive eu.
- Ela ainda faz aquela cara de coitadinha?
- A cara do gato de Botas do Shrek?
- Esaa mesmaa!!!! faz siiim, sempreee. Acho que não seria a Bianca se não fizesse né amor?
Sorri pro Felipe, mas na verdade minah mente queria gritar: O QUE VC ESTÀ FAZENDO?
- Hey, gente. O casamento é da Ana Paula. Vocês tinham que estar contado histórias constrangedoras dela e não minhas.
- Não liga amor, é porque todo mundo aqui te ama!
Nesse momento ele me beijou.
Foi o nosso primeiro beijo nessa farsa toda.
Apesar de ter sido só um enconstar de lábios foi como se uma corrente elétrica passasse por mim. Como se um imã tivesse me puxando para ele. Como se o que me prendesse a terra não fosse mais a gravidade e sim os braços dele ao redor de mim.

Nosso embaraço durou apenas um segundo e ninguém percebeu. No outro já continuávamos com a nossa farsa.

Pegamos o carro pra ir pra festa que seria em outro local, porque amiga minha não faz casamento pela metade! Casamento de amiga minha tem tudo o que tem direito... Como todos tinham ido de carro, fomos só nos dois no meu carro.

- Heey, como você sabia aquilo tudo sobre mim?
- Observando, só isso!
- Mas ninguém nunca percebeu nada disso.
- Eu sou um ótimo observador, só isso. Talvez por isso que eu queira fazer psicologia.
- Sério? Eu também quero.
- Nossa que legal!

O silêncio ficou desconfortável e eu vasculhei meu cerébro a procura de algo pra falar...

- Bom, você me faz perceber que meu plano de contratar alguém de agência nunca teria dado certo.
Percebi no momento seguinte que era melhor ter ficado calada.
- O quee? Você pensou em contratar alguém de uma agência?
Ele caiu numa gargalhada incontrolável.
- Na verdade, eu meio que... cheguei a ligar, mas não tinha ninguem pra atender aos meus requisitos...
Outra gargalhada.
- Claro que não Bianca, essas agências são pra outro tipo de acompanhante. Não existem namorados de aluguel aqui no Brasil. Tudo isso com medo de enfrentar suas amigas? Qual ée?
Ele mal conseguia falar de tanto rir. Mas eu séria falei:
- Hey, eu não sabia okay, Eu só não queria fazer papel de uma tia solteirona e velha... E não ria de mim...
Mas nem eu mesma me aguentei e cai na risada com ele. O somo da risada dele era a melhor coisa do mundo pra se ouvir. Era algo tão leve como a mais linda melodia das músicas e fazia eu me sentir tão bem como há muito tempo não sentia...


Chegamos na festa ainda rindo e o braço dele nas minhas costas descobertas pelo vestido de frente única mandava pequenos arrepios pelo meu corpo.


Nossa mesa ficava de frente a um relógio daqueles antigos. E num momento o relógio deu uma badalada...

Eu me lembrei na hora da história da Cinderella... Era uma história pra crianças, mas estava prestes a acontecer comigo... O encanto ia se quebrar e tudo ia voltar como antes, Eu ia voltar pra minha vida vazia... Eu ia continuar vivendo com uma ampulheta sobre mim... me lembrando sempre que o meu tempo estava se esgotando, mas ao mesmo tempo eu não podia fazer nada pra mudar. Eu ia olhar a areia passando pro outro lado, sem nem poder lutar...

Uma lágrima escapou dos meus olhos e eu abaixei a cabeça pra ninguém reparar. Felipe levantou me rosto e perguntou:
- Você quer dançar?
Isso me faria ganhar tempo pra me recomponhor.
Tocava uma música lenta e começamos a dançar no ritmo da música. Eu resolvi acabar logo com o encanto por minha própria vontade... talvez doesse menos...
- Olha Felipe, você não precisa fazer isso. Dançar não está no nosso acordo, nem me fazer rir, nem responder perguntas sobre mim das minhas amigas... Muito obrigada por tudo, mas eu não quero exigir mais nada de você...
- Droga Bianca! Para de lembrar toda hora que isso é um acordo, que isso é falso!
- Mas tudo isso é falso!
Não consegui segurar a onda de lágrimas que estava prestes a cair e sai da pista de dança pro lugar mais reservado q eu encontrei. Como a casa de festa era numa ilha. o lugar mais fazio que eu achei era um lugar pra se olhar o mar...

Fiquei por um momento ali deixando as lágrimas correrem livremente, e nem vi quando o Felipe chegou.

- Desculpa Bianca não quis te fazer chorar...
Não virei pra encontrar o olhar dele. Continuava fitando as ondas escuras que batiam furiosamente lá embaixo.
- É só que... eu não queria lembrar que tudo isso não é a realidade. Ou melhor que tudo isso não é verdade...
Me virei pra encará-lo porque nada do que ele dizia fazia sentido...
- Minha realidade é você Bianca. Não sei desde quando, mas eu sonho em ter um dia com você assim há muito tempo. Eu não estou fazendo esforço nenhum pra te acompanhar porque eu seria qualquer coisa por você. Eu faria de tudo. Eu quero te conhecer muito mais do que eu conheço. Eu quero te ver todo dia quando eu acordar, eu quero dormir chierando o seu cabelo.
Eu simplesmente não conseguia falar.
- Eu não vou encontrar a mulher certa Bianca, porque eu já encontrei. È VOCÊ. Eu só quero a chance de poder mostrar pra você que eu sou a pessoa certa pra você também...

Dessa vez ele me beijou mais intensamente que antes e todo o resto do mundo sumiu de vez. Ele não precisava me mostrar que era a pessoa certa pra mim, porque eu sabia disso. O jeito que nós combinávamos demonstrava isso.

A pessoa que eu sempre procurei estava do meu lado, literalmente, e agora não ia sair de lá nunca mais...

Voltamos pro salão de festa e parecia que o mundo tinha ficado mais colorido. Agora tocava uma música alegre e todas as minhas amigas dançavam numa roda. Bia chegou perto de mim mostrando um anel na mão direita:

- Biancaaa, se prepare pra outro casamento, só que dessa vez quero você no altar com um vestido deslumbrante, quero a minha madrinha impecável, contanto que me leve pra escolher com você.
Felipe e eu respondemos na mesma hora:
- Estaremos lá!

Cada um foi pra um canto, enquanto eu continuava dançando com o Felipe.
Ele lembrou de um ponto interessante:
- Lembra aquela história da recompensa? Que tal agora?
- Como voce quiser...

E contiuamos lá, perdidos no nosso mundinho que era de mentira e virou verdade, do meu acompanhante que virou acompanhante pra vida inteira...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eu tentei ficar calada, eu fui guardando sentimentos dentro de mim.Fui amontoando sonhos, decepções e tristezas...E agora tudo em mim se torna um furacão, simplesmente não dá pra segurar mais, simplesmente tudo está saindo da minha garganta... Palavras saem furiosas por terem sinto contidos, sentimentos se revoltam por terem sido manipulados...Eu não posso ficar calada.Eu não vou me conter.Eu fui feita pra sentir, fui criada pra reagir. Minha mente necessita de criação.>Me expressar em palavras talvez seja a única coisa que está presente em todas minhas fases tão imprevísiveis quanto meu humor. Preciso sentir, preciso viver. Mesmo que sejam só histórias inventadas, mesmo que sejam sonhos. Mesmo que não durem mais que um dia. Elas me fazem sorrir, me fazem alegres, me fazem sentir o que as vezes uma dia de vida inteira não conseguem. Por isso, eu preciso disso. As palavras dependem de mim, assim como eu dependo delas!

domingo, 4 de julho de 2010

Fecho os olhos pra não ver passar o tempo. Pra não saber que cada tic tac do relógio é um buraco a mais que se forma em meu coração sem você. Fecho os olhos pra não ver você partindo, pra não saber que a culpa foi minha e que eu não fiz nada pra impedir. Fecho os olhos pra não ver o vazio que você deixou. Pra não sentir o que o coração faz questão de que eu sinta, essa dor que queima e me arrasta pro fundo. Fecho os olhos, fecho minha mente, me fecho inteira para o mundo, onde nada possa me machucar ainda mais... Mas não adianta, porque você vai comigo... Você me persegue como uma vingança cruel em que o único objetivo é acabar comigo. E você está quase conseguindo. Onde nada pode me atingir você é o único que pode, você é o único que tem o poder de acabar comigo mesmo estando ausente, mesmo em pensamentos. Nessa batalha mental totalmente injusta onde eu não tenho a mínima chance de vencer. Onde eu só dependo da sua vontade de me deixar viva pra me sofrer ainda mais...